domingo, abril 26, 2009

Mostra Pernambuco (dia 1)

Por Leo Leite

Nessa segunda-feira (27) se dará inicio ao XIII Cine-Pe, um dos maiores eventos cinematográficos de Pernambuco. Mas foi nesse sábado que começou a Mostra Pernambuco, um evento, também, ligado ao Cine-Pe. Esse é o segundo ano da tentativa de dar mais visibilidade aos trabalhos audiovisuais locais. Deu certo, deu certo até demais. Afinal os pernambucanos gostam de se ver nas telas dos cinemas. As exibições acontecem no cinema da Fundação a partir da 19h, mas o fato é que o local não suporta o número de pessoas desse ano. Claro, a superlotação foi inevitável.
A sala suporta 197 pessoas e os ingressos começaram a ser distribuídos com meia hora antes do inicio, como é de costume na Fundaj. Mas bastou apenas 10 minutos para todos esgotarem, segundo uma funcionária do Cinema da Fundação responsável pela organização do evento. Mas o que fazer com as demais pessoas que ficaram de fora? Dentre elas estavam alguns diretores dos curtas exibidos e pessoas da imprensa, que não tiveram privilégios, mesmo com a credencial. A solução foi criar, de última hora, uma nova sessão. E segundo a mesma funcionária da Fundaj, isso só foi possível porque Sandra Bertini (diretora do cine-pe) pagou de seu próprio bolso o taxi do projecionista, afinal lá é uma instituição pública e tem horários a cumprir. A segunda sessão começou por volta das 21h e o produtor cultural Alfredo Bertini afirmou que se for necessário duas sessões no segundo dia, assim será feito.

O primeiro curta exibido foi Depois do jantar, projeto de conclusão de curso das alunas de Rádio e TV da UFPE: Alba Azevedo e Nara Viana. Inspirado num conto de Carlos Drummond de Andrade e com duração de nove minutos. Misturando comédia com uma triste realidade do Recife, o curta arrancou muitos risos da platéia presente. Excepcionalmente o filme foi exibido três vezes, duas na primeira sessão (por causa de um erro de sincronização de áudio) e uma na segunda.

Na sequência foi exibido o documentário Ô de casa, também projeto de conclusão. Dessa vez das alunas, de jornalismo da UNICAP, Júlia Araújo e Sheyla Florêncio. O documentário mostra a diferença entre algumas casas, as lembranças e vivências de seus moradores. Os personagens (muitos para um curta-metragem de 16’) foram superficialmente trabalhados, e os professores e psicólogos presentes marcaram à produção um ar de vídeo-aula de arquitetura e decoração. Isso sem contar que a exibição digital (em DVD mesmo) deixou ainda mais claro alguns defeitos na fotografia.

E pra recordar um pouco da cena artística do final dos anos 60 em Pernambuco, a exibição seguinte foi Ave sangria, documentário sobre a banda de mesmo nome. O maior filme exibido na noite, com duração de 20 minutos, contando com as presenças ilustres do jornalista e músico Marco Pólo e do agitador cultural Jommard Muniz de Brito. Raynaia Uchôa, Rebeca Venice e Thiago Barros, diretores da produção contaram a trajetória da polêmica banda, fazendo uso apenas das entrevistas, dando um ar leve e atrativo para o filme.

E logo após foi exibido Feito algodão doce, uma das mais belas surpresas da noite. O filme, também, projeto de conclusão do curso de Rádio e TV da UFPE, foi dirigido por Natali Assunção. Conta a estória de uma garotinha que sonha em brincar nas nuvens. Para fazer um contraponto com a realidade o filme é “costurado” com cenas de uma belíssima animação mostrando a convivência, mesmo na fantasia, dessa garotinha com as nuvens. A fotografia, bem trabalhada, chama a atenção juntamente com a direção de arte caprichada. A trilha sonora é leve, o áudio bem tratado dando uma correta visibilidade ao texto muito bem escrito. Um filme para crianças (o que é raro em Pernambuco) e para adultos.

A quinta produção da noite foi o documentário (também de 20’) de Diogo Luna, A Invenção do Cotidiano. A idéia foi mostrar um grupo de moradores de rua, sua rotina, suas reações perante uma câmera de vídeo e a felicidade que elas possuíam de forma simples e natural. Nesse ponto o curta é audacioso, faz uso de uma linguagem extremamente coloquial e legendas muito próximas das palavras ditas pelos personagens. A reação do público foi dos risos empolgados aos silêncios reflexivos, o que gerou algumas tentativas de aplausos durante a exibição.

Seguindo ainda essa linha documental, foi exibido Tebei, que é o nome de uma dança, cultura oral que o povo do interior do estado usa para “bater” o chão da casa. No inicio o filme, de 20 minutos, estava um tanto confuso, não se sabia ao certo do que se tratava. Mas na sequência foi ficando cada vez mais claro a cultura deles, mais uma vez focando na simplicidade de um povo.

Os problemas da noite voltaram a assombrar a mostra, foi na exibição do suspense Prenuncio, de Adriano Portella. Por algum equivoco da produção do festival foi exibida a cópia errada, a que ainda não havia sido finalizada. O curta foi apresentado na sexta (24) na mesma sala, e quem viu as duas percebeu a diferença de edição. Os produtores do filme pediram, então, que a cópia correta seja exibida no dia 26, último dia da Mostra Pernambuco, para que não sejam prejudicados perante os jurados.

Logo na sequência foi a vez de uma rápida animação: O trabolho. Com uma qualidade excepcional, roteiro simples e engraçado, o curta de dois minutos conta a estória de um rapaz que coloca seu celular no bolso e é confundido com um tarado no ônibus. A animação arrancou muitas gargalhadas dos presentes.

E para encerrar a noite: o curta Na terra do coração. O filme, bem fotografado e bem encenado por dois jovens atores, inspirado em um texto de Caio Fernando Abreu, conta a saga de um casal de apaixonados e foi o mais poético dos selecionados do dia 25.

Pra quem quer conferir o segundo dia da mostra a dica é chegar cedo, bem cedo para poder conseguir seu ingresso. Lembrando que a entrada é franca e não adianta chegar com credencial, impressa também tem que entrar na fila se quiser assistir aos filmes.